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“Parabéns pelo décimo aniversário, Porsche GT3 Cup Challenge Brasil”

Parabéns, Porsche GT3 Cup Challenge Brasil

Texto de Luiz Alberto Pandini

Há exatos dez anos, no dia 16 de abril de 2005, o automobilismo brasileiro ganhou uma nova categoria: o Porsche GT3 Cup Challenge Brasil. Uma ideia já com alguns anos de maturação e que foi colocada em prática pela dupla Dener Pires e Roberto Keller, os fiadores da “loucura” de trazer para o País uma categoria nos moldes da Porsche Supercup.

Não tenho a pretensão de dizer que vi o Porsche GT3 Cup Challenge Brasil nascer, mas acompanhei de perto vários movimentos ocorridos muito antes das duas corridas daquele 16 de abril de dez anos atrás. Lembro de Dener e Beto no estande da Porsche no Salão do Automóvel de 2004, apresentando o projeto a pilotos que poderiam se interessar em participar e mostrando a eles os detalhes do Porsche 911 GT3 Cup exibido junto aos lançamentos da marca naquele ano (era uma unidade de exposição, trazida da Alemanha especialmente para a feira). Semanas mais tarde, o primeiro carro pronto para correr chegou a Interlagos no final de semana de um evento do Porsche Club do Brasil. Todo branco, ele foi tirado do caminhão (vindo diretamente do porto de Santos), colocado no box e recebeu número (01) e adesivos com a inscrição “GT3 Cup Challenge Brasil”, ganhando mais “cara” de carro de corrida. Tanque cheio e feitas as verificações de praxe, o 911 GT3 Cup entrou na pista pilotado por Keller e Dener para algumas voltas de demonstração. Em janeiro de 2005, esse mesmo carro participou da Mil Milhas Brasileiras, pilotado por Raul Boesel, Marcel Visconde, Max Wilson e André Lara Resende. Nos treinos e na corrida, um sistema de telemetria forneceu informações precisas sobre o desgaste e o rendimento do Porsche 911 GT3 Cup. Ele não estava entre os carros mais velozes da prova, mas recebeu a bandeirada em sétimo lugar e – o que mais importava – percorreu sem qualquer problema o equivalente à distância prevista para uma temporada inteira de treinos e corridas, dando à equipe um cabedal valioso de informações e parâmetros.

Trabalhei como assessor de imprensa do Porsche GT3 Cup Challenge Brasil durante as dez primeiras temporadas de sua existência, e como comentarista nas transmissões de TV entre 2010 e 2014, dividindo a cabine com o camarada filistino inserindípito Luc Monteiro – um dos narradores mais talentosos que conheço, capaz de proporcionar emoção sem ser histérico e dar informações além do que se vê na tela (de quebra, é um ótimo parceiro de mesa e jogo). De tudo o que vi e vivi nessas dez temporadas, uma das imagens mais marcantes que guardo na memória é o grid da prova inaugural na reta dos boxes de Interlagos. Em qualquer corrida, eu gosto de observar grids formados, a movimentação dos mecânicos, os rituais finais dos pilotos. É um momento de expectativa e até hoje sinto descargas de adrenalina quando os motores são ligados, a volta de apresentação é autorizada e, claro, quando é dada a largada. E aquele grid tinha um significado especial. Quem estava no autódromo percebeu que era o começo de algo que tinha grande potencial para crescer e dar certo. Ainda havia quem tivesse dúvidas a respeito, apesar de um campeonato de perfil semelhante, o Troféu Maserati, ter sido introduzido no Brasil no ano anterior. Mas, com o tempo (pouco tempo), o Porsche GT3 Cup Challenge Brasil viria a superar todas as expectativas.

Onze pilotos largaram na primeira das duas corridas. O veterano Totó Porto, o mais experiente entre os participantes, fez a pole position e venceu a corrida inaugural, realizada com sol e calor. Terminaram atrás dele Roberto Posses, Luís Zattar, Eduardo de Souza Ramos, Tom Valle, Marcel Visconde, Marcos Barros, Charles Reed e Henry Visconde. Antônio Moraes e Otávio Mesquita abandonaram; Omilton Visconde Júnior, o 12° inscrito, participou somente dos treinos livres. A segunda prova, com largada no final da tarde, teve tempo encoberto e temperatura mais baixa. Oito carros largaram, alinhados de acordo com o resultado da primeira prova. Porto venceu novamente, seguido por Valle, Souza Ramos, Mesquita, Reed, Marcel e Henry. Posses abandonou, Zattar não largou por estar com o ombro contundido (já havia corrido assim na primeira prova) e Moraes se ausentou por motivo que não consegui apurar. O carro usado por Marcos Barros na primeira corrida seria pilotado por André Lara Resende na segunda, mas ele decidiu não correr. No final do ano, Posses tornou-se o primeiro campeão do Porsche GT3 Cup Challenge Brasil, após uma acirrada disputa com Zattar.

Desde 2008, Dener Pires comanda a categoria ao lado de sua irmã, Silvana Pires -Keller saiu para se dedicar a outras atividades, entre elas restaurar motos de GP históricas e, com elas, participar do International Classic Grand Prix, o campeonato criado para essas máquinas na Europa. Entre aquela corrida com 12 carros inscritos e a próxima, que será realizada neste sábado no Velo Città com duas categorias reunindo cerca de 40 pilotos, muitas outras coisas mudaram. A Porsche Cup brasileira cresceu em número de participantes (o lote inicial de 12 carros subiu para 15 logo na prova seguinte, chegou a 24 na segunda temporada e a 50 em 2010, já divididos em duas categorias), em estrutura, em abrangência territorial (inicialmente previsto para acontecer somente em Interlagos, passou logo a ter corridas em outros autódromos brasileiros e já teve provas na Argentina, em Portugal e na Espanha) e presença internacional (fez ou faz eventos conjuntos com F1, WEC e WTCC). Os carros também evoluíram. Os Porsches 911 GT3 Cup “996” de 2005, com 390 hp de potência e câmbio com alavanca de engates em “H”, foram dando lugar às versões mais modernas – a atual, da geração “991”, tem 460 hp e câmbio sequencial com trocas de marcha feitas por borboletas no volante.

Foram mais de 150 corridas, várias delas excelentes – pelas disputas, pelos fatos inusitados, pelas surpresas, às vezes por tudo isso junto. De todas as que aconteceram entre 2005 e 2014, só estive ausente em três ou quatro delas. Tive oportunidade de fazer muitas coisas boas (uma delas, guiar um Porsche 911 GT3 Cup) e de acompanhar de perto acontecimentos que, de outra maneira, dificilmente estariam ao alcance dos meus sentidos. Hoje, torço para o Porsche GT3 Cup Challenge Brasil comemorar, no mínimo, mais dez anos de existência. Sem nenhuma ironia: parabéns a todos os envolvidos.

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